Obras de arte vão aonde o povo está

Prefeitura Municipal de Fortaleza COMENTÁRIOS

Centro de Referência do Professor (CRP) e terminais de ônibus são locais de exposição.



Vídeos que convidam os olhos através de um buraco na parede. Pontos de luzes azuis sustentados por fios emaranhados. Intervenções de aquarela em fotografias e instalações com potes de barro. Desenhos em nanquim e guache sobre papel e esculturas que misturam materiais como chumbo, ferro e couro. Todas essas obras, e muitas outras, podem ser apreciadas por meio do 59º Salão de Abril, evento realizado pela Prefeitura Municipal de Fortaleza, através Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor), e que acontece no Centro de Referência do Professor (CRP) e em dois terminais de ônibus da cidade: Papicu e Siqueira. Mas não é só. A partir de hoje (15), em qualquer lugar, qualquer um pode se surpreender com a obra "À deriva", de Milena Travassos. A artista promete deixar garrafas soltas em orelhões, balcões e esquinas para serem encontradas e, a partir daí, "habitar os indivíduos e a cidade de maneira sutil e poética", como a própria artista define o seu desejo. Outros cantos de surpresa e encantamento são os terminais de ônibus do Siqueira e do Papicu, lugares de passagem, mas que acolhem uma arte que saiu do cubo branco e foi estar no cotidiano dos transeuntes, apenas de experiência, de troca. "Essa idéia de levar arte para os terminais é maravilhosa. Faz o povo ver arte mesmo que não queira. Isso é democratização da arte", comemora Estrigas. O artista, presente na noite de abertura do evento, não foi o único a festejar os quase 60 anos da mostra. "Às vésperas de completar 60 anos de existência, o Salão deve ser, mais do que nunca, um espaço de construção de uma política pública ampla e diversificada para as artes visuais. Um símbolo que vem potencializar toda uma vocação para as artes que a cidade expressa das mais diversas formas, seja nos museus, nos ateliês, nas galerias, nas ruas, nas escolas e nos centros culturais espalhados pelos bairros", adiantou Fátima Mesquita, secretária de Cultura de Fortaleza, em seu discurso de abertura do evento. "Sou irmão do Salão de Abril. Já participei de várias formas, desde aluno até curador. Mas hoje vejo que a mostra evoluiu, está levando vantagem sobre as outras nos quesitos infra-estrutura e dignidade oferecida ao artista", finaliza Estrigas. As artistas Camila Barbosa, de Santa Catarina, e Iara Dewachter, de São Paulo, selecionadas para o 59º Salão de Abril, aproveitaram o pró-labore oferecido pela Secultfor para comparecer à noite de abertura. "O evento está com uma montagem muito bem estruturada. E chego aqui e vejo pinturas, esculturas, fotografias, ou seja, um excelente panorama das várias formas de se fazer arte", elogia Camila. "Estou muito feliz com meus vizinhos", brinca Iara. "A curadoria fez um excelente trabalho. O Salão está lindo e o espaço (CRP) é imponente". As duas integram um elenco formado por 45 artistas representantes da arte contemporânea do Ceará (21), de São Paulo (11), do Rio Grande do Sul (03), Minas Gerais (03), Paraná (03), Santa Catarina (01), Mato Grosso do Sul (01), Pernambuco (01) e Rio de Janeiro (01). Os artistas passaram por um processo seletivo e cada um recebeu um pró-labore de R$ 1,5 mil, tendo em vista que o evento não tem caráter competitivo para dar espaço a um maior número de artistas brasileiros. Educativo – Um dos maiores desafios da atual edição do Salão de Abril é estar nos terminais de ônibus do Siqueira e Papicu, lugares por onde circulam cerca de 500 mil pessoas por dia. Para isso, a 59ª edição do evento selecionou 20 mediadores, entre estudantes universitários, para dialogar com os transeuntes, propondo-os troca de saberes e novos olhares sobre a arte. Carolina Ruoso, coordenadora da vertente educativa da mostra, acredita que esta novidade vai "estimular o diálogo entre a obra de arte e o indivíduo, a partir da sua subjetividade". De acordo com ela, os mediadores fizeram um curso incluindo noções sobre teorias da arte-educação e a arte contemporânea. Os jovens estudantes também foram preparados para realizar pesquisas de recepção sobre as percepções da arte nos terminais e sobre a relação do público com museus e galerias. As duas pesquisas darão base para um estudo sobre a relação do fortalezense com a arte. "Este estudo deve nos ajudar a pautar as ações futuras no campo de artes visuais. E esse é só um primeiro passo na discussão ampla e coletiva que queremos retomar nesta área. Vamos construir juntos essa política, justamente para que todos se sintam responsáveis e artífices", revela Fátima Mesquita. Para Maíra Ortins, organizadora do evento e coordenadora de Artes Visuais da Secultfor, a 59ª edição do Salão de Abril é uma montagem ambiciosa. "Estamos em espaços não convencionais e mesmo o convencional foi todo reformado e adequado para receber o evento. O sucesso desse evento já é visível no olhar de quem transita pelos terminais. Desde já, o Salão já cumpre sua missão de democratizar a arte", finaliza. Serviço: 59º Salão de Abril Centro de Referência do Professor (Rua Conde D'Eu, 560, Centro) Período de exposição: de 15 de outubro a 23 de novembro Visitação: de segunda a sexta, das 8h às 20h, e sábados, das 8h às 15h30 Terminais de ônibus Siqueira e Papicu: diariamente e sem limitação de horário

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