'Essa Febre Que Não Passa'

Teatro José de Alencar COMENTÁRIOS

'Essa Febre Que Não Passa'

O Universo feminino de "Essa Febre Que Não Passa" nos dias 05 e 06 de nov no TJA‏



O espetáculo “Essa febre que não passa”, quarta montagem do coletivo Angu de Teatro, traz pela primeira vez na trajetória do grupo pernambucano a cena ocupada só por mulheres. Ceronha Pontes (atriz cearense, de “Camille Claudel”), Hermila Guedes, Hilda Torres, Márcia Cruz, Mayra Waquim e Nínive Caldas dão vida às personagens criadas pela jornalista e escritora Luce Pereira a partir de livro homônimo. André Brasileiro, ator e produtor, realiza sua primeira direção junto com Marcondes Lima (diretor dos espetáculos anteriores do Coletivo Angu de Teatro – “Angu de sangue”, “Ópera” e “Rasif – Mar que arrebenta”).

O grupo escolheu cinco (05) contos dos 17 que compõem o livro da jornalista para encenar: “Clóvis”, “Nomes”, “Talvez já fosse tarde”, “Um tango com Frida Kahlo” e “Dora descompassada”.

Passagens com breves depoimentos criados pelas próprias atrizes, sobre suas vidas pessoais, como a relação com a irmã, com a velhice, com o mundo, dão o tom inicial. “Essa febre que não passa” nos fala ainda do que pode atingir a qualquer um, como dores de amores e separações. Os recalques furiosos ou apaziguados com o tempo, também não caem no esquecimento e pululam cenas. As feridas reabertas mexem com o corpo visível e o invisível também. A montagem do Angu persiste em características investigativas do coletivo, com o ator-narrador, mas traz variações na tonalidade mais feminina.

“Essa febre…”, segundo Marcondes Lima, “teve um processo de montagem colaborativo e autoral. As atrizes participaram da adaptação do texto, da construção das cenas, das escolhas levadas ao palco”. Três atrizes se agregaram ao coletivo para a montagem: Hilda, Mayra e Nínive.

“Essa Febre que Não Passa” – Conto a Conto x Quadro a Quadro na peça

Os contos de Luce Pereira expõem os nervos das personagens, e a montagem teatral cativa na aparente simplicidade para falar. Os recortes dos contos em cena permeiam estados de espírito, em que a melancolia, inquietude e pulsar da vida são múltiplas possibilidades, assim como as opções de seguir em frente, superação e renúncia.

No segmento Clóvis, encabeçado por Ceronha Pontes e Hermila Guedes, a promessa de felicidade é contraditoriamente salientada com a chegada dos sinais de desgaste de uma relação. O fim de relacionamento (entre duas mulheres, no caso) fala da empolgação ao desejo do duradouro à desatenção com as pequenas coisas, intermediado pela presença de um bichano (o Clóvis) da dupla na cena, que é representado inicialmente por Hilda Torres como o “gato do pesadelo”, e por Nínive Caldas que faz o felino Clóvis mais dengoso, esperto e cúmplice.

Na cena referente ao episódio Nomes, a personagem de Mayra Waquim, na pele de uma artista plástica, é uma figura com manias de grandeza, que se debate contra seu próprio nome e a tudo o que ela define através dessas insígnias nominativas. A artista plástica prossegue nas escolhas erradas e na inveja por nomes bonitos. Na frente da televisão faz ginástica, ou pinta quadros que não vendem, desfia mágoas e culpa a imensa falta de sorte desde o seu batismo. Apesar da ojeriza por coisas de gente pobre, mora em um prédio decadente. Frases de efeito, humor irônico e crítica social alinhavam a relação dela com seu entorno, desde a vida dos vizinhos, do prédio, do bairro.

O quadro referente ao conto Talvez já fosse tarde traz a dureza tristonha e mais cortante para acrescentar à cena momentos em que a autocondenação é refletida pelo bem que deixamos de fazer aos entes queridos, como negar um carinho. Marcia Cruz e Hilda Torres são a tia Bernarda e a sobrinha nessa relação ambígua em que a intimidade (ou falta dela) é ressentida. Marcia não faz apenas uma velha, mas a velhice do mundo, para quem tudo foi se perdendo e vive agora agregada à família da irmã. Hilda é a sobrinha inábil com afagos, que narra a história. Ela só consegue traduzir os gestos amorosos na lembrança de datas, como aniversários de parentes, e pelos presentes que oferece.

Ceronha Pontes volta ao palco com Mayra Waquim no papel de Sofia em Um tango com Frida Kahlo para fazerem de um café entre irmãs uma catártica explosão de memórias. O desejo de crescer que não finda com o término da adolescência, entre reminiscências compartilhadas pelas manas que não se entendem perfeitamente pelas incompreensões de uma e nas revelações da outra. “Queria ter a alma de Frida Khalo, expulsar cores, escancarar porões, viver todas as minhas heresias sem culpa, não fazer maldades com rapazes e misses”, exalta um dos diálogos. O jogo de amor e mágoa tão comum nas nossas famílias. “Mas como é que pode, dois pares de olhos nascidos do mesmo pai e da mesma mãe, olhar na mesma direção e ver coisas tão diferentes?”, reflete a atriz-narradora.

No fechamento do espetáculo, o quadro-conto Dora descompassada, fala do desespero, da dor, do desânimo, maiores que a vontade de prosseguir sozinha. A descoberta de um ainda então casal que já não se pertence, leva a um balanço da relação, que já não suporta a perspectiva de um futuro juntos. Em pleno fim de ano, o drama abre feridas e explora a inquietude do momento projetado. Uma dor de amor pode ser fatal. Hermila Guedes faz a mulher desesperada que ainda brinca de aparências de fortaleza e dignidade. O homem que se foi é representado por um par de sapatos. As outras atrizes compõem a cena. Uma banheira branca é instalada no meio do palco e define um quadro belíssimo de Dora na banheira tentando afogar as dores.

+++ Como nos espetáculos anteriores, as projeções são grandes aliadas da montagem, estabelecendo fortes ligações com o cinema e a memória. Essa memória é salientada por fotos “reais” das atrizes e de outras pessoas da equipe de momentos importantes de suas vidas. Esse trabalho está associado à luz que salienta as camadas dessas histórias e dessas mulheres. Os figurinos trazem inicialmente tonalidades pastel, que esquentam de acordo com o desenrolar do espetáculo.

Algumas Curiosidades de “Essa Febre que Não Passa...”: • O projeto da montagem inicialmente contava apenas com três atrizes

• André Brasileiro conheceu o texto de Luce Pereira quando fez uma leitura dramática com Gheuza Sena, a pedido da autora, dos contos Clóvis e Nomes, durante um festival de literatura

• Parte da música do espetáculo é feita ao vivo pela violoncelista Josie Guimarães. A trilha sonora e direção musical são de Henrique Macedo, que expande ou comprime os tempos e doa atmosferas aos contos.

• No processo de composição das personagens, além do método americano Viewpoints, as atrizes entraram em contato com o universo do tango, presente não só em forma de dança no espetáculo

• A montagem recebeu incentivos do edital da Eletrobrás (R$ 398 mil) e do Prêmio Myrian Muniz (R$ 120 mil)

Algumas Relações do Angu com o Ceará:

• A atriz Ceronha Pontes, cearense, faz parte do elenco de “Essa febre que Não Passa” e do Coletivo Angu

• O Coletivo Angu participou do Rumos Itaú Cultural Teatro junto com o Grupo Bagaceira de Teatro (CE). Tem inclusive planos de em 2012 transformar o resultado da pesquisa apresentada em performance ou espetáculo.

• A atriz pernambucana Hermila Guedes fez trabalhos com o diretor cearense Karim Ainouz no longa “O Céu de Suely” e também filmou em Fortaleza o longa "Assalto ao Banco Central", relatando o caso ocorrido no Ceará.

• O Angu também tem uma relação muito especial com o Ceará por causa do estival de Teatro em Guaramiranga (CE), pois apresentaram no certame o primeiro espetáculo da Cia, "Angu de Sangue", que foi vitrine para muitos outros vôos alçados pelo grupo.

SOBRE O COLETIVO ANGU DE TEATRO nasceu em Recife no ano de 2003, com o encontro dos seus componentes no início das pesquisas para a montagem do espetáculo "Angu de Sangue", texto de Marcelino Freire. De lá pra cá, além de “Angu de Sangue”, sucesso de público e de crítica em Recife e várias capitais do Brasil, montaram o polêmico espetáculo "Ópera", do dramaturgo Newton Moreno; em 2008 estrearam o espetáculo "Rasif - Mar que Arrebenta", também do autor Marcelino Freire, que circulou por várias cidades do Brasil. Atualmente, estão com a montagem do espetáculo Essa febre que não passa, baseado em contos da jornalista e escritora Pernambucana Luce Pereira.

Teatro José de Alencar


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