Cacá Carvalho leva ao TJA duas montagens solo 'UmNenhumCemMil' e 'A poltrona escura'

Teatro José de Alencar COMENTÁRIOS

Cacá Carvalho leva ao TJA duas montagens solo 'UmNenhumCemMil' e 'A poltrona escura'

As apresentações trazem obras de Pirandello ao Theatro José de Alencar nos dias 27, 28 e 29 de julho como extensão do Festival Zona de Transição


Depois do Zona de Transição, Festival Internacional de Artes Cênicas do Ceará que aconteceu durante a semana de aniversário de 102 anos do Theatro José de Alencar/ TJA - de 15 a 24 de junho -, o centenário palco que recebeu no evento mais de 40 produções da Argentina, Brasil, Colômbia, Dinamarca, Espanha-Guiné Bissau, Guatemala, Itália e Paraguai, expande as realizações com uma nova mini temporada.

O grande ator Cacá Carvalho leva ao palco principal do TJA em Fortaleza, duas montagens solo - "UmNenhumCemMil" e "A poltrona escura" - em cima da obra de Luigi Pirandello, que vão tomar vida nos dias 27, 28 e 29 de julho para plateia reduzida de 100 pessoas em cada apresentação, já que o público fica junto à cena, no próprio tablado. As montagens já são sucesso e o talento de Cacá Carvalho, reconhecido pelo grande público após interpretar o personagem Jamanta em telenovela da Rede Globo, pode ser melhor conferido em nuanças mais elaboradas nas peças, abaixo detalhadas.

UmNenhumCemMil

A trilogia pirandeliana que encenei com Cacá Carvalho, compõe-se de três trabalhos de naturezas muito diferentes entre si: O Homem com a Flor na Boca, A Poltrona Escura e o umnenhumcemmil.
O primeiro é um texto teatral em ato único, o segundo é composto de três novelas e este terceiro o ponto de partida é um romance.
Cada um deles tem uma história, em relação a encenação, muito particular, e os argumentos dos quais eles tratam são na realidade três temas fundamentais para cada um de nós:
- O homem diante da consciência da própria morte;
- O homem diante do sentido da própria existência;
- O homem a procura de uma real identidade em contraposição a máscara social que cada um de nós encarna diante dos outros ou diante de um espelho.
A obra de Luigi Pirandello é recheada de temas existenciais e filosóficos até em cada palavra, temas aos quais não é possível fugir se não escondendo-se na superfície de uma cotidianidade construída pelos outros.
Seria como descer sempre na profundidade de um cosmo que não conhecemos, um cosmo que não esta "fora" mas "dentro" de nós, e a experiência desses nossos espetáculos nos demonstrou ser um cosmo vivo e reativo para cada um.

O sucesso destes trabalhos, acredito não estar somente relacionado ao talento de Cacá Carvalho mas também aos temas interiores que a obra de Pirandello traduz.
Por sermos contemporâneos, não podemos fugir das questões levantadas pelo autor, podemos "somente" falar do mundo que esta em torno, estaríamos fugindo daquilo que em ultimo caso é o que mais nos perturba quando nos vemos de frente do abismo da consciência de viver ou de morrer.
"umnenhumcemmil" é um trabalho que começamos enfrentando um romance de 160 páginas. Depois de um trabalho de lenta e constante redução junto ao dramaturgo Stefano Geraci, optamos por selecionar a história de Vintangelo Moscardo (o protagonista) e o seu "experimento" de destruição da própria imagem social. Desta seleção, além da estrutura do romance, ficaram as reflexões de Moscarda, que como um novo alquimista, tenta realizar a "grande obra" da própria existência.

O experimento acabará miseravelmente com Vitangelo Moscarda reduzido ao papel de servente, ajudante de limpeza em uma casa de repouso, construída com seu próprio dinheiro. E foi com este dado que decidimos começar nosso espetáculo, de um ponto contrario ao de Pirandello: começamos do fim.

Reduzido a ser um humilde homem de limpeza da Casa de Repouso religiosa onde ele mesmo internou-se, Vitangelo Moscarda repercorre as etapas de seu experimento de destruição da própria imagem, etapas onde cada um de nós pode identificar-se e refletir.

Trabalhamos com Cacá, em cada cena fazendo um trabalho de pequeníssimas e grandes improvisações utilizando pouquíssimos objetos e ressuscitando, entre estes, a poltrona de nosso homônimo e precedente trabalho além das cadeiras "O Homem com a Flor na Boca". A estrutura de ações ganhou mais força, quando experimentamos trazer alguns espectadores para sentarem na cena, como uma espécie de "testemunha de cena" para que Cacá e o publico vejam pouco a pouco o papel dos personagens da história.
"umnenhumcemmil" supera assim a dimensão dos dois trabalhos precedentes por tornar-se um espetáculo feito por um só ator e não somente um monólogo.

Neste, a cena ou cenário transforma-se momento a momento tornando-se parte ativa da narrativa até tornar-se um lugar onde aquilo que é contado para o espectador pode realmente acontecer ali.

O teatro é uma pratica que se realiza através de ações que transformam conscientemente as diversas relações presentes "aqui e agora" : com as palavras, com as relações, com o espectador, com o espaço, com os objetos, com perguntas sobre o homem, com o corpo do ator, em relação a história que é contada.

Aquilo que na vida acontece de modo inconsciente, ou seja, que somos atores e espectadores de nós mesmo, no teatro acontece porque se aplica a tudo isso um pensamento ativo e consciente, criando os pressupostos para que a nossa condição humana seja interrogada e transformada.
Nisto, o teatro é uma arte especifica que precisa da presença do homem diante de outros homens.

Talvez seja por isso, que quando o teatro se confronta com sistemas e instrumentos de comunicação tão fortes, mais a sua aparente fragilidade o torna necessário.

Através da presença, nos confrontamos com o estado da nossa solidão que não é necessariamente negativa se isto nos leva a "trabalhar" sobre nós mesmos.

"Quem sou?", no teatro encontramos as respostas no corpo, na presença, no suor e na emotividade, co-dividindo o aqui e agora no pensamento que se faz ação, então a história que nos é contada poderia interromper-se não por falta de energia elétrica, mas sim por falta de energia "humana".
Por tanto, é desta energia que o teatro precisa e é esta que nós podemos reconhecer e este nosso trabalho tocar.

A POLTRONA ESCURA

Em cena, Cacá Carvalho interpreta três contos de Luigi Pirandello. "Os pés na grama", "O carrinho de mão" e "O sopro" foram retirados dos livros de contos "Berecche e la Guerra" e "Candelora". De acordo com Roberto Bacci, que dirige o espetáculo, a peça mostra como é inquietante o olhar divertido, lúcido e cruel de Pirandello sobre a condição humana.

Em "Os Pés na Grama", a solidão e perplexidade de um pai que ficou viúvo nos leva a compreender a cruel sucessão das gerações e o isolamento progressivo dos que vivem a última fase da vida.

Já em "O Carrinho de Mão", um grande e famoso advogado desmascara a miséria da condição humana num crescendo cômico, grotesco, patético, com a revelação de um inconfessável prazer. Riso e silêncio.

Talvez o mais mágico e metafísico dos três contos, "O Sopro" apresenta um Homem comum que descobre ter o poder de matar o próximo juntando o polegar com o indicador da mão direita e soprando neles. Sem entender os "comos" e os "porquês" dessa situação inusitada, ele vai se divertindo e matando. O absurdo chega ao ponto de tornar-se uma epidemia que acabará por destruir até o próprio protagonista.

Bacci conta também que, no centro do trabalho, sob aparente simplicidade, está o ritmo das ações e a intensidade do texto, sem deixar de revelar os aspectos cômicos e grotescos dos personagens que Cacá Carvalho faz aparecer e dançar rodando em torno de uma grande poltrona negra.

Por tudo isso Bacci considera um espetáculo imperdível.

MAIS SOBRE "A POLTRONA ESCURA"

"A Poltrona Escura", espetáculo composto de TRÊS divertidos e patéticos contos do prêmio Nobel de Literatura de 1934, Luigi Pirandello, dirigido pelo italiano Roberto Bacci, rendeu a Cacá Carvalho o prestigioso Premio Shell de melhor ator em 2004 em São Paulo. Alem de ser considerado pela Associação Paulista de Críticos de Artes um dos cinco melhores espetáculos do ano.

A carreira deste espetáculo passa por São Paulo, Rio de Janeiro, Roma, Milão, Pontedera, Florença, onde participou do Festival Fábrica Europa, Pisa, Bolonha, Brasília, Belo Horizonte, Salvador e outras dezenas de cidades e capitais. O espetáculo foi também apresentado na casa/museu onde, em Roma, viveu e morreu Luigi Pirandello. Ali foi apresentado para um seleto grupo de espectadores, na biblioteca do escritor, por uma semana, quando o quarto de Pirandello foi o camarim de Cacá.

Logo depois de apresentar-se em Belém e Santarém, em outubro, Cacá voltou para apresentar a sua "Poltrona Escura" no Festival Teatro Era em Pontedera/ Itália, em novembro de 2010. Junto a este espetáculo apresentou também "O Homem com a Flor na Boca" , de Pirandello, e o recém estreado "O Hóspede Secreto" , de Steffano Geraci, todos com direção de Roberto Bacci, de quem Cacá é parceiro na Itália há 18 anos.

Em 2012 realizamos temporada de grande sucesso de público no SESC Pompéia.

RESUMO DE ALGUMAS CRÍTICAS - "A Poltrona Escura" recebeu importantes críticas da imprensa especializada durante as temporadas no Brasil e na Itália. A mídia italiana, por exemplo, abriu amplo espaço para o trabalho do ator brasileiro:

"... As três novelas que Cacá Carvalho interpreta com obstinada, filológica precisão interpretativa contam algumas das mais célebres epifanias pirandellianas: a descoberta da vida nua e a vontade de lhe ser fiel a despeito de todas as histórias e convenções. Na Poltrona Escura, Carvalho dá a elas o estupor da descoberta indescritível...", Cordelli Franco (Corriere Della Sera - Roma - 06/02/04)

"É uma obra-prima. Do corpo e da voz do ator saem então páginas densas de humor, de necessidades irrefreáveis, de tragédias pessoais. Sai o homem pirandelliano com suas dores e a sua necessidade de existir, aqui perseguida também através de motivos fantásticos", Maria Teresa Surianello (Site Tuttoteatro. com - Roma - 07/02/04)

" Cacá Carvalho é capaz de uma identificação tão visceral com os personagens, que o leva além do naturalismo. Dotado de uma gestualidade em contínuo movimento que sublinha o transcorrer da voz, do tom baixo até o grito, que parece mesmo exprimir o barulhinho de uma vida diferente. Ele interpreta com os olhos, com a boca, com todo o corpo", Gianni Manzella (Il Manifesto - 08/02/04).

"Três tempos e três histórias, mas sem soluções de continuidade, tudo em um só fôlego, como uma subida ao Gólgota do sofrimento e da solidão, que Carvalho impregna com sua exuberante e destilada sabedoria de ator", Gabriele Rizza (Il Tirreno - Pisa - 07/03/08).

"Este Pirandello brasileiro termina por ser mais Pirandello que tantos acomodados e incômodos ‘Pirandello' italianos, monótonos e inúteis", Goffredo Fofi (Lo Straniero - maio de 2008).

CRÍTICOS BRASILEIROS

Os principais críticos de teatro em São Paulo, também aplaudem o trabalho de Cacá Carvalho:

"... é um espetáculo hilário e assustador, poético e marcante".
Contagia a platéia, por muito tempo, com a magia do teatro" Sérgio Salvia Coelho (Folha de São Paulo).

"Além de estudioso do seu ofício, de trabalhador incansável, Cacá tem carisma e aquela facilidade nata para ‘achados' gestuais e vocais que fogem do óbvio e surpreendem agradavelmente seu público.
...Sob aparente e bem-vinda simplicidade, esse talvez seja o seu trabalho mais elaborado" Beth Néspoli (O Estado de São Paulo).

"A POLTRONA ESCURA" - FICHA TÉCNICA

Direção: Roberto Bacci
Produção: Fondazione Pontedera Teatro
Produção Executiva: Núcleo Corpo Rastreado
Assistente de Produção: Winny Choe
Três contos de Luigi Pirandello
Dramaturgia: Stefano Geraci
Tradução: Anna Mantovani
Cenário e figurino: Márcio Medina
Iluminação: Fábio Retti
Fotos : Lenise Pinheiro
Duração: 90 minutos
Classificação etária: 16 anos
+++++

MAIS SOBRE "umnenhumcemmil"

Ficha Tecnica
Direção: Roberto Bacci
Dramaturgia: Stefano Geraci e Roberto Bacci
Ator: Cacá Carvalho
Iluminador: Fabio Retti
Cenário e Figurino: Márcio Medina
Assistente Cenário e Figurino: Maristela Tetzlaf
Cenotécnico: Cesar Rezende
Composição Musical: Ares Tavolazzi
Sonoplasta: Ernani Napolitano
Direção de Produção: Núcleo Corpo Rastreado
Produtora: Gabi Gonçalves e Winny Choe
Tradução: Cacá Carvalho

Agradecimentos:
Fondazione Pontedera Teatro
Sérgio Zagaglia e Stefano Franzoni - assistência técnica
Luisa Pasello e Silvia Tufano além de Daria Castelacci, Angela Colucci, Manuela Pennini e Micle Contorno.
Realização Casa Laboratório para as Artes do Teatro.

Sexta, 27 dejulho
TEATRO Zona de Transição - Festival Expandido
UmNenhumCemMil, solo de Cacá Carvalho (Brasil/Itália)
20h palco principal
R$ 10 e 20 16 anos 80min 100 lugares

Sábado, 28
TEATRO Zona de Transição - Festival Expandido
A poltrona escura, solo de Cacá Carvalho (Brasil/Itália)
20h palco principal
R$ 10 e 20 16 anos 90min 100 lugares

Domingo, 29
TEATRO Zona de Transição - Festival Expandido
A poltrona escura, solo de Cacá Carvalho (Brasil/Itália)
18h palco principal
R$ 10 e 20 16 anos 90min 100 lugares

Bilheteria TJA: (5) 3101 2583 (de terça a domingo a partir das 13h)

 

Teatro José de Alencar


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