Exposição de fotos do artista visual Bruno Vilela

Centro Cultural BNB COMENTÁRIOS

Exposição de fotos do artista visual Bruno Vilela promove releitura do universo do conto de fadas

Bruno Vilela mostra personagens de contos de fada em situações mórbidas, estranhas, e, mesmo, perturbadoras, Alice caída na entrada de uma casa, de onde só se vê parte de seu corpo.



As fotografias do artista visual pernambucano Bruno Vilela promovem uma releitura do universo do conto de fadas. Nestas fotos, personagens de contos de fadas aparecem em situações mórbidas, estranhas e mesmo perturbadoras, como a Branca de Neve esvaída em sangue e desmaiada numa floresta, ou Alice caída na entrada de uma casa, de onde só se vê parte de seu corpo. O que há por trás dessas imagens? Por que elas nos inquietam tanto? É o que aborda e questiona a exposição “bibbdi bobbdi boo”, série de fotografias de autoria de Bruno Vilela que serão apresentadas em exposição individual no Centro Cultural Banco do Nordeste-Fortaleza (rua Floriano Peixoto, 941 – Térreo – Centro – fone: (85) 3464.3108), com curadoria de Ana Cecília Soares e Júnior Pimenta. A abertura da mostra acontecerá nesta quinta-feira, 13, às 19 horas. Antes, às 18 horas, haverá um bate-papo de Bruno Vilela e os dois curadores com o público presente. Gratuita ao público, a exposição ficará em cartaz até 04 de junho deste ano (horários de visitação: terça-feira a sábado, de 10h às 20h; e aos domingos, de 10h às 18h). Mais informações sobre o conteúdo da exposição e o trabalho do artista podem ser encontradas em seu site: www.brunovilela.com. ...Foi uma vez (texto curatorial por Ana Cecília Soares e Júnior Pimenta) A chegada da modernidade no século XX modificou a nossa concepção de narrativa ou estruturação de uma obra de arte ou de um texto. A essa maneira de se contar histórias, a pesquisadora Katia Canton chamou de “narrativas enviesadas”. Compostas a partir de tempos fragmentados, sobreposições, repetições e deslocamentos, elas rompem com a idéia de “começo-meio-fim” tradicional. A não-linearidade de seus elementos prevalece. Canton acredita que, para criar suas narrativas enviesadas, uma das estratégias dos artistas contemporâneos é a utilização de contos de fadas em seus trabalhos. Essas histórias paradigmáticas do ocidente são conhecidas o suficiente para poderem ser viradas do avesso pelos artistas. “Não há risco de que a identificação com o espectador desapareça, considerando-se a popularidade de que são revestidas”. As fotografias da série “Bibbdi Bobbdi Boo”, do artista visual Bruno Vilela promove uma releitura desse universo. Nela, personagens de contos de fada aparecem em situações mórbidas, estranhas, e, mesmo, perturbadoras, como a Branca de Neve esvaída em sangue e desmaiada numa floresta, ou Alice caída na entrada de uma casa, de onde só se vê parte de seu corpo. O que há por trás dessas imagens? Por que elas nos inquietam tanto? Oriunda do latim “fatum”, a palavra fada significa destino, fatalidade ou fado. Essa raíz etimológica remete ao contexto inicial em que os contos de fadas estavam inseridos: na forma original, os textos falavam de adultérios, incestos e mortes violentas. Eram concebidos como entretenimento para adultos, contados em reuniões sociais, e não em ambientes infantis. Somente no século XVII, com o francês Charles Perrault, que os contos começaram a se humanizar. No século XIX, com o trabalho idealizado pelos irmãos Jacob e Wilhelm Grimm, as histórias foram direcionadas ao público infantil. Numa desconstrução do imaginário simbólico criado por esses contos, Bruno Vilela incorpora aspectos de nossa realidade às narrativas. Fundindo fantasia com o real, o artista rompe com estereótipos do tipo: “um mundo perfeito, onde todos são felizes para sempre”. A desmistificação do amor perfeito, do ideal de beleza e do maniqueísmo humano (bem x mal), também, está presente em sua proposta. O artista constrói imagens que mantém aproximação direta com a pintura. Suas fotografias são como verdadeiras telas vivas e pulsantes, dotadas de um cromatismo nervoso, pronto a explodir. O colorido inebriante de Vilela rompe e distorce qualquer tipo de idealismo, sugere uma reconfiguração da condição primordial das “fadinhas”. Tornando-as mais parecidas conosco: frágeis e de carne e osso. Tão maleáveis ao mundo como nós! Assim, ao desfazer e refazer narrativas consolidadas e de domínio público, o artista não apenas afirma a importância da tradição como sugere que reinventar é tão necessário quanto não aceitar algo já imposto. Vilela quebra paradigmas e escancara aos olhos do espectador sentimentos, que no geral, procuramos deixar de lado por nos ser conveniente... Suas imagens têm o intuito de inquietar, chocar, mexer com aquilo que está quieto, longe de uma realidade romanceada, e assim, induz a reflexão sobre as nossas próprias mitologias... Texto de Marcia Tiburi: Bruno Vilela ou era uma vez Branca de Neve e outras sonsas. Bruno, o caçador, com sua câmera, realizou o sonho da madrasta. Alguém um dia finalmente cumpriria a sentença: matar Branca de Neve. Salvou as meninas do seu destino de bobas. A heroína bela e branca, submissa e sonsa, pertence definitivamente ao “era uma vez”. A imagem técnica que nasceu com a fotografia nos tempos em que Branca de Neve pertencia à imaginação a serviço da moral, vem, hoje, nos salvar do mito, acabando de vez com o imaginário de redenção para a bonitinha que se salva porque escravizada e se escraviza por ser a bonitinha. As outras: Chapeuzinho, Alice, e quem mais estiver por perto, vão junto. Bruno Vilela talvez não imagine a revolução que acaba de promover. Vilém Flusser, autor da Filosofia da Caixa Preta, afirmou que o fotógrafo é sempre um caçador. Não podemos desperdiçar a analogia entre caçador e fotógrafo diante do trabalho que vemos aqui. Sua arma, a câmera fotográfica, confirma o elo entre imaginário e real, entre a produção da imagem e a forma como mulheres poderão ver a si mesmas de agora em diante. O feminismo agradece. Mais que ele, todos os que sabem o poder que a produção da imagem tem na construção das subjetividades. É um soco no estômago do espetáculo. Bruno Vilela acabou com o mito da bonitinha que, para permanecer viva precisa de um homem, seja ele um grupo de anões que exploram sua capacidade para o trabalho doméstico, seja o príncipe que acolhe a beleza morta no seu programa de casamento. Quem terá a coragem de contar às crianças a historinha das boas moças, das heroínas órfãs, da submissa à maldade da madrasta que nega a maternidade e se entrega à vaidade, da que perde temporariamente o único lugar que almejou na vida, o de princesa, para depois recuperá-lo na grandiloquência da condição de esposa e rainha, a que vive pelo efeito mágico do casamento, da que é salva pelos animaizinhos da floresta, pelo grupo de anões generosos e assustados, da que se entrega à romantização, da que desconhece os perigos da floresta, da que não sabe o que pode o lobo? Quem terá coragem de contar que o caçador cansou de seu papel piedoso, que o guarda-costas das meigas não quer mais saber de mentiras, de uma imaginação que serve a ideologias? A caça das heroínas é em favor de uma outra realidade. E agora, será que Bruno pagará caro por este escancarar sem piedade estas verdades diante de nossos olhos que não querem ver? Trajetória artística Bruno Vilela Nasceu em Recife/PE, em 26 de julho de 1977. Artista plástico formado em Retrato com Anatomia e Figura Humana com o mestre japonês Sunishi Yamada. Realizou exposições individuais em Recife dentre as quais se destacam: Bibbdi Bobbdi Boo na FUNDAJ – Fundação Joaquim Nabuco, Réquiem sobre papel no Museu Murilo La Greca e O Céu do céu no Museu do Estado de Pernambuco. Participou de coletivas, como o Prêmio Internacional de Pintura de Macau, Jogos de Guerra no Memorial da América Latina, Abre alas na Gentil Carioca, Investigações pictóricas no MAC-Niterói, Projeto Prima Obra em Brasília, Salão de arte contemporânea do Paraná e Salão de arte de Pernambuco. Bruno foca sua pesquisa em três principais suportes: fotografia, desenho e pintura. O universo feminino, dos contos de fada, do mistério, da vida e da morte são sua busca. Uma espécie de quebra de arquétipos e a sua substituição por outros mais sombrios e misteriosos. Para Vilela, arte é xamanísmo, um portal para outra dimensão, como diria o mestre Beuys e Da Vinci. É cor, forma, composição, espiritualidade, matéria e o tesão pelo visual como fez o mestre Rauchemberg. A Pesquisadora Georgia Quintas diz sobre o trabalho de Bruno: “Na série de fotos Bibbdi bobbdi boo, ele faz um ensaio repleto de persona­gens (verdadeiras imagens-ícones pré-estabelecidas) como Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho e Ali­ce (no País das Maravilhas). A foto­grafia não só é utilizada como re­gistro, mas também como lingua­gem. As imagens possuem um vi­gor vertiginoso. Nelas, os mitos de­saguam. A elaboração das cenas nos leva a uma dimensão imaginá­ria rica em detalhes, nos indicando o paradoxal terreno imagético dian­te das nossas certezas. Todas as fi­guras femininas que compõem as fotografias de Vilela são alegorias de um novo discurso. O lúdico das estórias para crianças torna-se dra­mático, soturno e furtivo. Há san­gue, há dor, há queda... O artista trabalha exatamente neste limiar entre o estabelecido e o improvável: do declínio da perfeição, das doces, heróicas e diáfanas mulheres”. Todas as fotos dessa série passam por um processo de produção como de um filme. Maquiagem, figurino, locação, entre outros itens. Tudo para um único clique.

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