Zeca Baleiro lança novo CD em noite de autógrafos

Centro Cultural BNB/Fortaleza COMENTÁRIOS

Zeca Baleiro lança novo CD em noite de autógrafos



Zeca Baleiro lança novo CD em noite de autógrafos na loja Desafinado, em Fortaleza, terça-feira, 23/09, às 18h30. Cheguei à casa de repouso para idosos e fui conduzido pelo enfermeiro até o jardim onde, entre árvores rasteiras e um canteiro bem cuidado de onze horas, o velho homem tomava seu banho de sol matinal. Esperei a breve conversa entre os dois, percebi que falavam sobre mim. O velho virou-se em minha direção, revelando um tímido mas indisfarçável sorriso. Aproximei-me e sentei-me na cadeira posta ao lado pelo enfermeiro, que então se afastou nos deixando a sós. - Então é você que quer falar comigo?... - Sim... mas achei que o senhor não me receberia. - Por que? - Disseram que o senhor não gosta de falar sobre o passado. Nem mesmo de falar muito. - Não mentiu quem lhe disse isso. - Então por que o senhor concordou em falar comigo? - Não tenho nada além do passado, às vezes preciso falar, mesmo que não goste. É uma forma de não morrer... - Mas o senhor teme a morte? Imaginei que não. - Sou um homem, como você. - Sim, mas o senhor foi um homem-bomba na juventude. Homens-bombas são treinados para morrer, não? - Você não é um homem-bomba, não foi treinado para morrer, mas a primeira certeza que teve na vida foi a própria morte. E você a teme, não? - Sim, o senhor tem razão. Um breve silêncio congelou o momento, como numa cena de faroeste italiano. Eu podia sentir o vento balançando as folhagens dos arbustos verdes, muito verdes. Um passarinho ferido na asa pousou a nossos pés. O homem fitou-o com olhar perdido. Interrompi seu torpor com uma quase pergunta. - Eu queria saber o que aconteceu. - Algo simples e misterioso. No dia e hora marcados, a minha bomba não explodiu. Fui preso e torturado... e depois de anos estou aqui. - Nunca pensou em se matar nesses anos? – perguntei temeroso. - Já, mas me faltou coragem... - Como pode um homem-bomba não ter coragem de se matar? - Difícil explicar. - O senhor se sente amargurado? - Me sinto traído pelo destino. Passei a achar que morrer pela causa na qual eu acreditava não era o meu destino. Tampouco morrer jovem. - Desculpe, mas... traído pelo destino? - É, apesar de ter me preparado durante anos pra isso, passei a duvidar de que era esse o meu lugar no mundo. - O senhor é infeliz por isso? - Você pode imaginar o que é, para um homem-bomba, ver-se envelhecendo no espelho?... Sem mais uma palavra, levantei-me e deixei-o, ali a sós. Seu rosto grave reluzia ao sol. Eu ouvia o eco de sua pergunta sem resposta enquanto os corredores passavam por mim. O passarinho ferido levantou vôo, um vôo rasteiro e desengonçado. Sua asa ainda sangrava. O homem-bomba puxou um cigarro em silêncio, enquanto espiava com seus olhos vidrados as minúsculas gotas de sangue deixadas pelo pássaro em seu rastro. Antes que me perguntem, este não é um disco “conceitual”. É um amontoado de canções acumuladas ao longo de alguns anos – umas novíssimas, outras nem tanto e algumas ainda tiradas do baú e recicladas. Os temas são diversos – amor, solidão, saudade, sedução, loucura, crônicas deste tempo tecnológico e cínico. Há ritmos e levadas vários – reggaeton, ragga, funk e soul brazucas, rock, ie-ie-iê, repente, ska, samba-funk, etc. O nome surgiu num estalo, a reboque de uma cançoneta de melodia intuitiva que abre o disco, ao modo de uma cantiga de roda contemporânea, um acalanto tragicômico. Se o coração do homem-bomba há de explodir, que essa explosão seja de alegria, do encantamento que a música popular ainda pode, apesar do horror do mundo, plantar no coração das pessoas. Reunido com “Os Bombásticos”, minha banda, em São Paulo, entre fevereiro e abril, comecei a gravar várias canções sem planos tão definidos na cabeça. Com grande apetite depois de três anos sem gravar inéditas, ao cabo de um mês tínhamos cerca de 25 bases prontas e, entusiasmado com a produção, resolvi fazer um disco em dois volumes. Nos dois discos, há parcerias com novos e velhos amigos – Chico César, Zé Geraldo, o baixista André Bedurê, que tocou comigo nos primeiros anos de São Paulo, os talentosíssimos compositores/ poetas Wado, Kléber Albuquerque e Totonho (da banda Totonho e os Cabra), e Joãozinho Gomes, soberbo poeta paraense radicado no Amapá, uma grata descoberta nas minhas andanças pelo país. E há ainda duas releituras, de uma antiga canção de Luiz Ayrão, e de outra, mais recente, do grupo Karnak. Nos últimos anos, muito se tem falado em “desconstruir”, seduzidos que todos são pelo verniz modernoso e vanguardeiro da palavra. Mas... desconstruir o quê, se mal começamos a construir? Este disco não tem “conceito”. Também nada “desconstrói”. É um disco de música popular, a boa e velha música popular brasileira. Espero que baste. 1_ O CORAÇÃO DO HOMEM-BOMBA [vinheta] _ zeca baleiro 2_ VOCÊ NÃO LIGA PRA MIM _ zeca baleiro Ska dominado por metais, à maneira das velhas bandas jamaicanas. Canção de amor nos tempos do celular. 3_ ALMA NÃO TEM COR _ andré abujamra Releitura do grupo paulista Karnak. Com arranjo baseado no original, este hino à diferença mixa timbres e sotaques musicais diversos – acordeon e bouzouki, forró e rumba. 4_ VAI DE MADUREIRA _ zeca baleiro Feita especialmente para a volta das Frenéticas em disco de 2001, é um samba-funk com participação da dupla maranhense Criolina nos vocais (viva os Originais do Samba!). 5_ ELAS POR ELAS _ zeca baleiro Mote clássico de repentes e emboladas, a citação de vários nomes femininos aqui serve a um reggaeton canastrão de acento latino. 6_ AQUELA PRAINHA [vinheta] _ zeca baleiro e chico césar 7_ ELA FALOU MALANDRO _ zeca baleiro e zé geraldo Segunda parceria com o compositor Zé Geraldo, este mix de rock, brega e jovem guarda tem trompetes mariachi dando o tom. 8_ VOCÊ É MÁ _ zeca baleiro e joãozinho gomes Letra do poeta paraense Joãozinho Gomes em canção com leve acento jazzy e soul, mas sem aspirar a Motown. 9_ BOLA DIVIDIDA _ luiz ayrão Clássico de 74 do chamado “sambão jóia”, esta canção faz parte da minha discoteca afetiva. Aqui, ganha acentos de pop bósnio (?). 10_ AÍ, BEETHOVEN [vinheta] _ zeca baleiro 11_ TOCA RAUL _ zeca baleiro Canção-resposta aos gritos gaiatos de “Toca Raul”, comuns nos shows. Homenagem canhestra ao mestre do rock brazuca, mas uma homenagem. 12_ NEGA NEGUINHA _ zeca baleiro Suíngue-de-roda-pop-baiano, novo gênero da estação, espero. 13_ GERALDO VANDRÉ _ zeca baleiro e chico césar Diálogo imaginário com Vandré, uma das figuras mais enigmáticas de nossa música. INFORMAÇÕES ADICIONAIS: · Juarez Sampaio (loja Desafinado) – (85) 3224.3853 / 8878.7774 – sampaioaudio@hotmail.com – www.desafinado.com.br · Daniela Mazzola (gerente de Marketing da MZA Music) – (21) 2431.7725 – danymazzola@mzamusic.com.br – www.mzamusic.com.br

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